Programa Nart promove noite de encontros entre estudantes e músicos no Teatro Escola Basileu FrançaPublicado em: 22 de setembro de 2025

Concerto da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás é acompanhado de perto por 30 estudantes do programa de Bela Vista de Goiás, ligado às Escolas do Futuro
Dezoito horas e nove minutos, o sol se despediu nos céus de Goiânia mais uma vez na sua rotina diária, fazendo com que as luzes da cidade, a partir daquele momento, passassem a cumprir a função delas pelas 12 horas seguintes. Aos poucos, os raios que iluminavam os tijolos em cor cerâmica do Teatro Escola Basileu França, dando a eles um tom de dourado, deram seus últimos respiros por ali, deixando que as peças, que revestem todas as paredes, recuperassem o tom natural, agora, banhadas entre a penumbra que se firmava e as luzes da fachada, com suas 25 letras em branco que demarcam o templo de arte localizado no coração do setor Leste Universitário.
O acender daquele gigantesco letreiro e os portões já abertos anunciavam, que naquela sexta-feira de agosto, em plena secura típica do inverno do planalto central, o palco tão conhecido dos goianienses receberia novamente mais uma celebração à cultura, acompanhada bem de perto pelo público cativo que sempre ocupa as quase 600 cadeiras vermelhas distribuídas pela plateia inferior, sacadas e piso superior do grandioso teatro escola. No palco, cadeiras e estantes de partituras aguardavam, silenciosamente, o primeiro acorde da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás.
Para muitos seria mais uma noite de emoções já experimentadas antes, em tantas oportunidades passadas. Porém, para outras pessoas, a experiência, provavelmente, era a primeira, marcando a memória delas, e que, por muito tempo, poderá ser lembrada em conversas em rodas de amigos e familiares. Com certeza, é o que irá acontecer, daqui a alguns anos, com a estudante Heloísa Borges, de apenas 13 anos. Com olhos brilhantes, assim como o sol daquele dia que há pouco se despedira, a jovem transbordando alegria e entusiasmo contou como se sentia ao viver esse momento inédito. Para ela, aquela noite não seria apenas um concerto musical, tão comum para aquele espaço, mas, na verdade, o pontapé para a concretização de um dos seus sonhos, o de ser uma grande violinista.
“É a primeira vez que piso em um teatro, estou muito encantada por poder estar aqui, hoje. Quando soube que viria prestigiar esse concerto, eu fiquei muito animada. É uma emoção indescritível porque eu quero me tornar uma musicista. Desde muito pequena, escuto música todos os dias, sem exceção, junto com meus pais e minha avó. Por conta disso, minha mãe me matriculou em um curso oferecido na minha cidade. Comecei há pouco tempo, e estou me dedicado ao máximo para realizar o meu sonho”, narra Heloísa. A garota, que iniciou recentemente seus estudos, escolheu a viola clássica para ser sua companheira nessa trajetória pelos próximos anos.
A estudante do Nart de Bela Vista de Goiás, Heloísa Borges (de vestido preto), conta o sonho de se tornar violista (Foto: Wéber Félix)
As palavras só foram interrompidas quando as luzes do Teatro Escola se apagaram e o tom azul que tomava o palco foi substituído, anunciando o desfile dos músicos em direção aos seus lugares, sob uma torrencial salva de palmas. Assim como os artistas, a garota procurou, rapidamente, sua poltrona, ao lado de amigas e amigos que vieram com ela de Bela Vista de Goiás, exclusivamente para aquela apresentação. Acomodados à esquerda do palco, espaço reservado àquela turma formada por estudantes do Núcleo de Promoção e Desenvolvimento Artístico (Narts), 30 jovens aguardavam ansiosamente a primeira nota ser tocada. A agitação e a inquietude eram comuns a todos. Qualquer um que notasse o grupo perceberia a empolgação daqueles estudantes, seja pelos movimentos frenéticos de mãos que eram esfregadas nos apoios das poltronas, seja pelos olhares curiosos que varriam todo o interior do teatro, buscando um ponto para se concentrar diante daquela majestosa construção.
Somente o primeiro acorde tocado naquela noite conseguiu pôr fim a respiração agitada, sendo substituída pela tranquilidade que transparecia nos rostos serenos de cada um daqueles jovens. Diante deles, a Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás os convidava a viajar pelas notas antes conhecidas apenas na partitura, e que, por meio dos musicistas, podiam sair do teatro e conhecer outro território, guiados pela música que estava sendo tocada. Para os 30 estudantes, a possibilidade de ver pela primeira vez um concerto em um teatro já era impagável, mas a noite era ainda mais especial porque no palco eles encontraram dois ídolos: o violinista brasileiro Guido Sant'Anna, renomado músico de apenas 20 anos e que faria um solo especial de Brahms, e a violista integrante da OSJG, Brunna Gomes, personalidade e artista que faz parte da vida do grupo.
Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás se apresenta no Teatro Escola Basileu França com Guido Sant'Anna (Foto: Ana Luiza Reis)
Maria Fernanda Guimarães, de apenas 13 anos, não fez questão de esconder o entusiasmo por estar experenciando aquele momento único. Durante o intervalo do concerto, ela contou como aquela noite a incentivava a continuar os estudos na música, principalmente, ao presenciar a atuação de músicos que ela admira. “Há alguns anos pude assistir a uma apresentação da Sinfônica Jovem em minha cidade. A beleza da música, a harmonia dos músicos e a intensidade da execução chamaram minha atenção. Naquele momento, tive certeza de que queria ser musicista, a música me despertou um interesse que não sabia que eu tinha, a sensação de pertencer àquele lugar, de querer estar ali com eles tocando”, conta ela.
“Há três anos me dedico ao estudo do violino, ele mesmo me escolheu naquela apresentação, foi a melhor decisão que tomei para minha vida. E estar aqui hoje, pisando pela primeira vez em um teatro, presenciar de perto o Guido Sant'Anna, ídolo que acompanho, e ver minha professora ali com ele, quem eu admiro tanto e me inspira diariamente, é maravilhoso. Essa noite vai ficar gravada em minha memória. Eu já consigo me imaginar estando, daqui a algum tempo, naquele palco e poder levar minha música assim como o Guido e a Brunna”, complementa Maria Fernanda.
Grupo de estudantes de Bela Vista de Goiás participam de aula sobre música no Nart da cidade (Foto: Arquivo pessoal)
A confissão foi encerrada assim que as luzes do teatro novamente foram apagadas para dar lugar à apresentação de Beethoven e sua Sinfonia nº5. Atentos à nova música e à dança dos instrumentos, os estudantes se contorciam com a vibração que emanava do altar musical e se espalhava pelos corredores da plateia, tomando todo o lugar. Mesmo não ocupando mais o posto de destaque, Guido, sentado ao lado do spalla daquela noite, ainda atraía os olhares do grupo, que percorriam o palco até o encontro com as mãos do artista que conduzia, brilhantemente, o arco sob as cordas de seu violino. Os olhares, contudo, não eram direcionados apenas ao artista que veio da Alemanha para essa apresentação, Brunna Gomes também era buscada por eles.
A violista, que é o motivo de carinho e admiração dos estudantes, deu os primeiros passos na música de concerto ainda na adolescência, em um projeto social em Anápolis. O encantamento por esse universo a levou até a universidade, onde pôde se profissionalizar e conquistar a tão sonhada vaga no corpo de musicistas da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás. Mesmo tendo concretizado os planos da juventude, de se apresentar nos palcos do Brasil e do mundo, a artista, inspirada na própria trajetória, decidiu dar as mãos para outros jovens para que consigam, também, viver a mesma experiência diante do público.
Ao fim de todos os atos do concerto, ainda com a viola em mãos, Brunna deixou o palco e foi recebida com aplausos calorosos e um abraço coletivo de seus alunos e alunas. A demonstração afetuosa coroou a noite, com uma troca verdadeira de carinhos entre eles. Atualmente, a artista divide seu coração entre as apresentações e o ensino de novos músicos. Tocar ensinando e ensinar tocando faz dela uma violista mais alegre, como contou emocionada, com brilho nos olhos e respiração ofegante.
Professora Brunna Gomes se reencontra com seus estudantes após o encerramento do concerto da OSJG (Foto: Ana Luiza Reis)
“Meu coração encontra-se dividido entre os palcos e a sala de aula. Hoje mesmo, estava pensando sobre isso, muitas pessoas acreditam que é necessário fazer a escolha por um ou por outro, mas não consegui. Essa junção é a realização de todos os meus sonhos, e eu fico até emocionada ao falar sobre isso. E nesta noite, esses dois universos se juntaram, porque na plateia estão muitos dos meus alunos e alunas. Essa experiência é única tanto para eles quanto para mim, deles virem um concerto nesse espaço, mas também de tê-los aqui comigo”, explica Brunna.
Entre os estudantes que a recepcionaram, Enzo Araújo se destacou pela alegria de reencontrar a professora após o espetáculo. Ele, que viu a mestra pela primeira vez no palco, conta como Brunna tem contribuído com seu estudo de instrumento de cordas friccionadas, paixão despertada em 2023, pós-período pandêmico. “Durante as aulas, venho sendo incentivado por nossa professora, e a cada aula, tenho me surpreendido com a beleza do violino e sonoridade que soa de suas cordas. Ainda na infância iniciei os estudos no piano enquanto morava nos Estados Unidos, mas ao chegar ao Brasil, me senti tentado a experimentar outro instrumento, e foi no Nart, sob a orientação da professora Brunna, que iniciei uma nova trajetória musical. Tocar violino está sendo desafiador devido à dificuldade que ele apresenta, porém estou achando incrível e vou continuar até dominá-lo por inteiro”, promete, com entusiasmo, o garoto que iniciou o curso neste ano, em Bela Vista de Goiás.
Os estudantes, Enzo Araújo e Maria Fernanda Guimarães, se juntam à professora e violista, Brunna Gomes, para comemorar o concerto da noite (Foto: Ana Luiza Reis)
Pouco a pouco, o palco do Teatro Escola Basileu França voltou a ser tomado por pessoas, dessa vez o espaço que outrora estava repleto de músicos da OSJG, passou a ser ocupado pelos 30 jovens que até então rodeavam a professora na plateia. Convidados por ela, os futuros musicistas puderam encontrar, pela primeira vez, o violinista Guido Sant'Anna, que os recebeu com um belo sorriso no rosto e de braços abertos para uma conversa. Entre perguntas e respostas, entre fotos e vídeos, Guido compartilhou com o grupo parte da sua experiência musical ao redor do mundo, inclusive o início da sua carreira. Cada palavra era ouvida e lida atentamente, o momento único se tornara uma extensão da sala de aula, comandada por Brunna. Acompanhando bem de perto toda a dinâmica, a coordenadora do Programa Narts, Juliana Rodrigues, contou como esse encontro fora possível naquela noite.
“Nossas crianças e adolescentes de Bela Vista puderam, hoje, vivenciar esse momento que poderá se repetir futuramente, só que com eles do outro lado, de frente para o público. Muitos deles não tiveram, até hoje, a oportunidade de assistir ao vivo um concerto, e muito menos em um teatro como este. Essa viagem musical só foi possível a partir desse projeto que foi criado para incentivá-los a valorizar o aprendizado musical, mas também a música de concerto, além de poderem, ainda, construir referências artísticas que os ajudarão a realizar seus sonhos”, argumenta a coordenadora do Núcleo de Promoção e Desenvolvimento Artístico, ligado às Escolas do Futuro de Goiás, que foi a responsável por implementar o projeto “Vivências Musicais”.
Violinista, Guido Sant'Anna, recebe estudantes do Nart para um bate-papo após concerto daquela noite (Foto: Ana Luiza Reis)
No relógio marcando 23 horas, com os instrumentos acomodados em seus respectivos estojos, plateia e palco vazios, as portas do Teatro Escola foram fechadas. Onde sons e melodias encantadoras circulavam até pouco tempo, agora reina o silêncio com seus múltiplos sentidos adormecidos, à espera do público e de outros artistas para que acordem e voltem a tomar vida novamente, em um novo espetáculo.
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